Frequentemente recebo
pais angustiados porque seus filhos não comem muito pouco ou são muito
seletivos quanto ao leque de opções dos alimentos ou ainda, suspeitos de um
transtorno alimentar (anorexia ou bulimia). Boa parte delas apresenta histórico de alergia
alimentar, podendo ser atual, ou um quadro de remissão.
Algumas apresentam
comportamentos bizarros à mesa como comer com três ou mais talheres, sendo um
para cada tipo de alimento que se vai ingerir. Há aquelas que comem apenas
alimentos de uma determinada cor e outras que desejam comer no pratinho do
gato.
Ao questiona-los como os
hábitos alimentares foram construídos, nota-se que em geral, os processos se
dão sob muita angústia e ansiedade dos pais, dadas as agravantes dos quadros
alérgicos, o pouco tempo de que dispõem para as refeições, cardápio monótono e alterações na vida social dos
filhos.
Os sentimentos de culpa e impotência são os
mais frequentes e acabam por torna-los permissíveis além do ideal podendo
consequentemente levar ao desenvolvimento de transtornos comportamentais em
seus filhos. Administrar a própria culpa e ansiedade é um caminho seguro a
trilhar.
A dessensibilização que
consiste de uma lenta e branda exposição da pessoa alérgica ao alergênico é o
tratamento top de linha para alergia, uma resposta imune exagerada a algumas
substâncias. Curiosamente o termo também é usado em psicologia, em geral para o
tratamento das fobias (reações exageradas de medo a um determinado animal ou
evento) e transtornos da ansiedade. A pessoa é exposta muito lenta e brandamente
ao que lhe causa medo até o abrandamento da resposta atingir níveis adequados.
Os pais e cuidadores de
crianças alérgicas devem baixar também passar por um processo de
dessensibilização adquirindo toda informação que a medicina tem a fornecer e
lidando positivamente com ela. Não fiquem na dúvida, perguntem e ajam segundo
as prescrições. Sintam estarem orientados.
Há quantidade e
diversidade de estudos associando ansiedade e alergia suficientes para levar assunto
a sério. Pais e tutores devem observar a si próprios e checarem se estão
lidando com serenidade adequada quanto aos cuidados dos filhos ou se estão
ansiosos e culpados em demasia e
alimentando os níveis de exigência e intolerância das crianças. Se sim, deve-se
buscar atitudes mais equilibradas.
Buscar informação, diversificar
o cardápio, estimular a inclusão da criança e dizer não, quando preciso, de
forma assertiva e transmitindo confiança são elementos indispensáveis para harmonizar
as relações entre pais e filhos.